Até no mercadinho a natureza se faz charmosa. Veja, por exemplo, o jiló. O jiló não é redondo, não é cilíndrico, o jiló é losangamente o jiló. Verde por fora. Mostra respeito a um desconhecido. Para quem não tem o tato e a alcalinidade de tratar dele, pode ser amargo, ocre, ruim. Mas o jiló tem muito charme para quem sabe conquistar um jiló. E é um saber para quem tem coragem. Comer jiló é coisa para corajosos. Jiló deve ser primo da pimenta, só quem tem coragem de experimentar pode sentir o prazer de apreciar.
Quem tem medo de jiló o classifica como “ comida de passarinho”, “coisa amarga”, “ alimento de pobre”. Que forma engraçada de desdenhar de algo. Se os passarinhos, os comedores de jiló, cantam tão bem, o jiló não pode ser algo tão ruim assim. Se é amargo, é porquê não sabe a delícia que é viver, apesar de a vida ser formada de momentos amargos salpicada de pontos de doçura. E, realmente, ao comer jiló, sei que estou comendo comida de pobre. Pobres de dinheiro. Ricos em sabedoria. Quem e quando descobriu que, dentro daquele fruto verde e de pele lisa se encontraria um simples prazer mundano? Lamento muito que muitas pessoas passem pelo mundo e não comam jiló. Na verdade, muita gente só passa pelo mundo mesmo, afinal. E o jiló permanece. Jiló é vítima dos que não o conhecem. É pária dos fastfoodianos que vivem por aí, em uma tribo que se multiplica vertiginosamente – e assustadoramente -.
Mas, em outro canto da feira, escondido entre as folhas da alface e da rúcula, encontra-se o chuchu. Chuchu é tímido. Tímido por ser feio, peludo, de cinturinha fina e ancas e seios grandes. Chuchu é gordo de cinto. Aqueles que comem chuchu, comem-o por pena. Chuchu é água verde. Chuchu tem vergonha de ser gosto. Chuchu tem vergonha de desafiar o paladar de seus donos. É animal doméstico que abaixa o rabo por medo de chamar-lhe a atenção. Por que? Porque ele é feio, tadinho. E por ser tadinho ele é comprado. E chuchu é barato. Vocês, leitores, poderiam me dizer que chuchu é gostoso quando acompanha isso ou aquilo. Concordo, chuchu não nasceu para ser a estrela de nenhum prato, e sim um ocupador do espaço livre.
Eu não tenho medo do jiló, tenho admiração, uma certa inveja até. Como posso viver e não enfrentar uma batalha contra o amargor e a altivez do jiló? Medo eu tenho do chuchu. De sua passividade. De sua timidez. Tenho medo de sentimentos reprimidos, escondidos. Chuchu é um alimento triste. E tristeza só pode dar câncer.
Definitivamente, chuchu só deve servir para os depressivos e suicidas. É a faca que corta os pulsos. São as vozes assassinas que sussuram nos ouvidos de seus consumidores as palavras : “ Se matem!”
Daniel Mancini Bitencourt
Um comentário:
não gosto de jiló
mas respeito ele
hehe
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