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segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Vento, chuva, azul, cinza, pássaro, cavalo, anjo e eu

Está ventando. Tenho medo do vento. Ventos fortes e assustadores. Ventos de mudança. Ventos que te lambem a cara e te mostram que as dunas onde repousas não são concretas. Só a pedra é fixa. A vida é uma sucessão de ventos, brisas, tufões, furacões...
Porém, adoro a chuva. Sei que muitas vezes o vento traz a chuva. Sei que a chuva não é tão querida por todos como eu gosto. Chuva lava, limpa, recomeça, germina, fortifica...
Minha vida é um momento onde os oráculos do vento me assustam e da chuva me animam.
Acho que encontrei a palavra certa: oráculos.
Outro dia estava conversando com um senhor, amigo meu, e este me dizia que seu joelho doía, sinal de que ia chover. Batata! Todos os dias que o encontrava no restaurante eu perguntava a ele:
-E o joelho? Será que chove?
-Chove nada, vai ser sol até quarta feira.
E o engraçado é que ele nunca errara. Várias vezes eu consultava a previsão do tempo antes de ir ter-me com ele. Sabia que íamos ter sol de rachar e nada de chuva por aqueles dias, mas mesmo assim testava a habilidade do joelho de meu amigo.
- Bom dia!
- Bom dia!
- Que solão, heim?! Pelo visto não vamos ver chuva por alguns dias, não é?!
- Que nada, hoje acordei com meu joelho latejando. Vai ter chuva sim, e das grandes.
Dei aquele sorriso e fui almoçar. Cheguei em casa ensopado. Chuva.
****

O vento diminuiu sua intensidade. Meu medo se abrandou. Por que será que o vento me trás medo? - que na verdade não é medo, é uma vigília, um estado de porvir sombrio -.
Olho para o céu e vejo as nuvens numa correria só. De onde elas estão vindo e para onde estão indo? Primeiro vejo poucas, como pequenos chumaços de algodão contrastando com o azul do céu. Agora elas começam a tornar-se mais densas e menos brancas, e o azul do céu já é algo quase oculto por elas.
O som do vento nas árvores e nos prédios continua a me incomodar. Incomoda como farpa de madeira no dedo indicador. Incomoda, mas não mata.
O céu já começa a escurecer. Não há mais o azul que ri, só o cinza que lucubra.
Eu gosto do cinza. Acho que cinza é cor do pensamento. A massa cinzenta.
As garças passam em revoada rumo ao seu ninho, seu descanso, sua meditação.
Como pode uma garça voar contra a ventania se eu tenho esse medo vigilante do que o vento pode trazer?
***

As aves são corajosas.
Enfrentam com bravura o vento que me assusta.
Queria ser ave. Não precisa ser uma águia, nem uma garça, talvez um simples pardal, um pombo de praça, sei lá. O que na verdade eu queria é ser corajoso de enfrentar vendavais e brisas leves com a mesma força e bravura.
Ouço o pio de um passarinho. Pio forte, agudo, mas ao mesmo tempo leve e musical.
Penso na coragem dos pequenos animais e começo a evoluir para outros não tão pequenos. Imagino o relinchar de um cavalo livre e arisco num belo campo aberto e sem cela ou arreio que o segure.
O cavalo é visivelmente forte, bravo, indomável (ao menos em sua natureza de cavalo). Cavalo sonha em voar?
É o pégaso o sonho de todo cavalo? Ou é sonho do homem que, sem se preocupar com o pobre animal, lhe coloca asas e o lança do precipício?
Teria o cavalo coragem de enfrentar os vendavais, tal como o pequeno pássaro o faz? Teria Deus, em sua majestosa brincadeira de criar barro e moldá-lo ao seu prazer de escultor, ousado uma “aberração” dessas?
Talvez nada tenha de aberração nisso tudo, talvez seja a perfeita completude do cavalo ser animal de terra que o faz ser mais que pégaso.
Talvez voar seja um dom para os mais humildes. Deus não deu asas aos espertos, aos fortes, aos inteligentes. Deus não deu asas aos homens, apesar de os homens criarem máquinas de voar.
Deus fez os anjos para a nossa imaginação voar. Ou para nossa inveja querer imitar?
Somos todos Ícaros e sonhamos em voar, mas cera de abelhas e asas emprestadas não nos fazem anjos. Anjo é anjo. Homem é homem. Cavalo não voa. Gaivota não galopa. Chuva não molha o nosso interior. Vento não varre um pensamento. Medo não é ausência de coragem. Cinza não é melhor que azul.
Tudo é um pouco de tudo, mas o tudo pode ser o nada pra um passarinho, um cavalo, ou até um anjo.
Eu sou um nada, mas um nada que queria ser tudo: homem, anjo, passarinho, cavalo, cinza, azul, chuva e..., não, vento não.

23 de agosto de 2008 – 17:48

Um comentário:

Anônimo disse...

Achei lindo, tbm ñ gostaria de ser vento, tenho medo dos relampagos q ele faz arastando uma nuvem contra outra...talvez seria agua, pra chuver....