Pesquisar este blog

Total de visualizações de página

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Era uma vez...

Era uma vez um menino em busca de respostas para o mundo.
Era um menino diferente dos outros: sério, responsável, não se sujava no pátio do colégio.
 Brincava na areia da praia, e não entendia que aquele todo era apenas a comunhão de muitos grãos de areia.
Nadava no mar, mas não sabia que aquilo tudo era também uma união de gotículas de água.
Sentia o sal no mar, mas achava que tinha sido colocado lá por algum desavisado que acabou por salgar o mar.
Esse menino construía castelos de areia com muito amor, detalhes e paciência.
Seu lindo castelo que o mar iria desmanchar. Mas não importava.
 Do castelo se fazia piscina e a felicidade permanecia.
 Sua mãe lhe dera um picolé. Sua única preocupação era não deixar que ele derretesse.
Brincava de procurar conchinhas. Escolhia as mais bonitas e guardava. Talvez dariam para fazer um belo colar. Em casa, as esquecia.
Tinha um mundo inteiro a sua volta, mas vivia sempre em seu mundo particular, com algumas interações com o mundo público.
Esse menino não tinha se dado conta de que ele também era uma gota, um grão, uma praia em si. Esse garoto era indivíduo, mas também era parte de uma multidão.
O Sol batia em sua pele e o garoto nem percebia.
A pele, agora, ardia. A areia ardia. E o menino conheceu a dor de ter se entregado tão profundamente ao prazer de um dia de verão.
Então o menino chorou. Sua mãe lhe deu colo e o levou pra casa.
Desejou nunca mais ir a praia.
Tomou banho de água doce e foi dormir.
E sonhou.
Sonhou que havia crescido, e seu dia na praia foi um dia de amor. Aproveitado bem devagar em seus mínimos detalhes.
E, no dia seguinte, voltou a mesma praia, construiu o mesmo castelo de areia que virou piscina, chupou o mesmo picolé, queimou sua pele mais ainda. E assim foi, dia após dia.

O menino que amou o mar, a areia, o picolé, o colo da mãe, agora lembrava-se da pele que ardia, mas não era a pele que ardia agora.
 O menino ardia por dentro. O sol fez pousada dentro dele.
 E, quando o sol se pôs, queimado ficou o coração do rapaz.
De coração queimado, chorou, limpou seu machucado e foi dormir.
E, no dia seguinte, eis que o amor novamente o chamou.
O medo de se queimar agora existia.
Mas o rapaz entendeu ser parte de um ciclo. Não poderia ser parte de nada, se não se deixasse queimar por dentro mais uma vez.
E assim, entre praias, amores e dores, o homem se deu conta de que não era culpa do sol, nem do amor, nem da dor, era apenas a felicidade que se fez pequena quando pequena, grande quando grande, e eterna enquanto vivo.

Daniel Mancini Bitencourt - 04/01/2011