E depois de tantas coisas, o que mais falar? Boa Sorte? Tudo de bom? Vai passar?
Nem sempre há palavra pra exprimir o que se sente quando o que se tem no coração é simplesmente um luto etéreo de um amor que outrora fora tão vivo que chegou a ser substantivo concreto. Então, uma carta de separação não é nada além de um testamento; testamento esse em que o “de cujo” não está no caixão, pois apesar de ter uma vida substancial, sua morte permanece etérea e abstrata.
Isso, pelo menos, tem um lado bom; sem cova, sem corpo, sem lápide, sem herança. Mas há o legado.
O que sobra das juras de amor?
O que sobra da fidelidade?
O que sobra do respeito?
A quem pertencerão as músicas, as eternas trilhas sonoras da vida, dos poetas a quem esbulhamos e usucapimos?
Não, caro compositor, tal quais os aforismos e ideologias escritas e publicadas, a propriedade emocional destas suas obras não são mais suas. Pelo menos, não exclusivamente.
Desculpeis-me todos vós: Clarisse Lispector, Fernando Pessoa, Elisa Lucinda, Vinícius de Moraes, Tom Jobim e todos os outros que enamoraram-se do o Amor. Podem ser suas as letras, frases, palavras publicadas. Podem ser suas as célebres frases, poesias, sonetos, livros, textos. Mas o Amor não casa.
Esse eterno namorador seduz, envolve, adoça a boca, mas, de repente, ele se vai. Vai para os braços de outro casal inocente e suplicante.
E às letras somam-se as canções. Com melodias que tocam profundamente a alma, as letras são cantadas, faladas, repassadas, boca-a-ouvido, ouvido-a-boca.
Sim, minha herança é um coração partido. Mas coração partido não é herança, é momento. Então eu rogo-te; suplico-te; imponho-te!
De tudo que me destes, de tudo o que eu te dei, não me devolva nada. Este legado é seu ou de quem o quiser. Fica a teu critério.
Mas do nosso espólio, só não abro mão do Roberto. Eu fico com "Detalhes", você com "Emoções".